A LEI NO NOVO TESTAMENTO
Sem dúvida alguma, o debate sobre Lei e Graça, tem sido
um dos mais ferrenhos no seio da igreja. Teologias foram criadas, heresias se
estabeleceram, divisões se formaram, tudo em torno desta dualidade doutrinária.
Todavia, nestes últimos anos este embate nunca foi tão prejudicial a igreja. No
meio desta efervescência surgiu um venenoso movimento teológico, que não
somente provocou o óbito espiritual de muitos, como também intoxicou os que
sobreviveram. A “Hipergraça”,
violentou valores, desprezou princípios, escarneceu as tradições, confundindo-a
com tradicionalismo e injetou na cabeça dos imaturos que estamos no “Tempo da
Graça” e não no “Tempo da Lei”. A partir deste ponto, passo a registrar alguns
argumentos que julgo ser relevantes àqueles que não baratearam a Graça e que se
recusam a serem perturbados pelos insistentes ataques destas ideias
controversas e falsamente doutrinárias. Ideias essas que partem principalmente
de púlpitos sem compromisso com a Palavra Revelada, substituindo-a por suas
próprias pesquisas infundadas, autônoma e soberba. Antes de destacar tais
argumentos, gostaria de ressaltar que Lei e Graça, são criações Divina. Os
debates ficam por conta arrogantes. Posto isto, afirmo que:
A
GRAÇA NÃO SE INICIOU NO NOVO TESTAMENTO, PORTANTO NÃO ESTÁ RESTRITA A UM TEMPO
Muitos dentro da igreja reiteradamente dizem que estamos
no “Tempo da Graça”, a ponto de ver ímpios escarnecendo dos valores do Reino e
acreditarem que ainda bem que não estamos no “Tempo da Lei”. Ora, a Graça não é
um segundo plano de salvação, como se fossemos salvos pela Graça no Novo
Testamento e pelas obras da Lei no Antigo Testamento. Até porque a Lei veio
através de Moisés, de modo que Abrão foi justificado pela fé sem as obras da
Lei (Rm 4.13). A Graça não é temporal, é essencial. Existia antes da Nova
Aliança e foi exatamente o que livrou Nóe de sucumbir junto com seus
contemporâneos, pois Deus achou Graça e nele (Gn 6.8). Como ignorar Gn 3.15,
onde Deus utilizando-se de um favor imerecido, cobre Adão e sua mulher com pele
de animal, o que por inferência faz uma alusão ao sangue derramado do animal
que morre no lugar do pecador. Qualquer semelhança não será mera coincidência.
A
LEI É NECESSÁRIA E NÃO OBSOLETA
Dizer que não estamos mais no “Tempo da Lei”, é no mínimo
uma insensatez e incoerência doutrinária. Uma infeliz afirmação de que é
possível haver um Reino sem Lei, apenas com Graça e favor para todos os
súditos. Neste segundo argumento, quero afirmar que o Reino de Deus não é um
reino sem lei. Vale aqui uma pergunta nada retórica: Se Deus nos salva através
da Graça, através de que Ele pune a humanidade que o rejeita? Urge a
necessidade de que nós, ministros do Altar, alertemos a igreja que o chamado
“Tempo da Graça”, só existe para aqueles que fizeram uma aliança com o Cordeiro
e vivem de acordo com as cláusulas deste contrato. Caso contrário seria uma
espécie de: Vem quem quer e viva como quiser. Absolutamente não. A Graça salva
os que se tornaram filhos mediante a fé no Filho de Deus (Jo 1,12; Ef 2.8, Rm
8.1). Mas a Lei pune os que rejeitaram a Aliança (Rm 1.28-32).
Esse argumento não
é difícil de entende se considerarmos que em Jesus somos justificados, isto é,
sem culpas, isentos de crimes contra a Lei e transformados de uma natureza
pecaminosa para uma natureza santa. Já que nem todos tornaram-se filhos
mediante a fé não sendo, portanto, justificados. Evidentemente que sua natureza
é passiva de julgamento e condenação pela Lei, visto que a Graça não condena,
mas sim absolve os arrependidos (At 4.19). Deste modo fica claro quando o
Apóstolo Paulo afirma que a Lei é para os transgressores (ITm 1.9). Afirmo,
portanto, segundo a Palavra que a lei não foi abolida e sim cumprida. Jesus não
a aboliu. Seu cumprimento se manifesta em nós que que o recebemos como Senhor e
Salvador (Mt 5.17).
PELA
LEI VEM O CONHECIMENTO DO PECADO
A ausência de lei não é perdão, é baderna. Quando a
Palavra diz que sem lei não há transgressão, não está querendo dizer que
estamos isentos de culpa, quando pecamos (Rm 4.15). Apenas existe aqui uma
abordagem que que a Lei serve de placas de sinalização nas estradas da vida e
que só percebemos o que é errado quando a legislação ordena o que é certo. Isso
torna-se evidente quando Paulo afirma que se não fosse pela Lei ele não teria
conhecido o pecado, pois a Graça perdoa o pecado descoberto, mas a Lei é quem o
denuncia (Rm 7.7). Portanto a Lei não acabou nem é ruim Ela é santa e boa (Rm
7.12; ITm 1.8). Onde fica o Espirito Santo, se é pela Lei que conhecemos o
pecado? Pergunta-se. Ele trabalha exatamente nos convencendo deste pecado
registrado na Lei (Jo 16.8-11).
A
LEI NÃO É ANULADA PELA FÉ. PELO CONTRÁRIO. ELA A CONFIRMA RM 3.31
Fé não é um simples ato de crer, mas também uma forma de
conduta condizente com aquilo que dizemos acreditar. Ter fé é importante, mas
ser da fé é mais profundo ainda. Os que SÃO da fé, são filhos do crente Abrão e
abençoados com ele, diz a Palavra (Gl 3.7,9). Assim sendo, fé tem a ver com
crer na Graça perdoadora, tanto quanto acreditar que existe uma justiça
punitiva, caso contrário deixaria de ser justiça.
A
TRÍPLICE MANIFESTAÇÃO DA LEI NO ANTIGO E NO NOVO TESTAMENTO
Martinho Lutero, considerava a Lei veterotestamentária em
três estágios. A saber: Lei Civil, que se refere ao modus vivendis do povo
judeu. Em segundo lugar a Lei Cerimonial, que tem a ver com os rituais,
sacrifícios e liturgias de culto, na sua maioria, uma alusão profética
cumpridas em Cristo. Em terceiro lugar a Lei Moral, resumida no decálogo e
considerada por ele, como vitalícia, significando que se tornou vigente até aos
dias de hoje, visto que, como já dito, a lei não foi abolida e sim cumprida.
No que se refere especificamente ao Novo Testamento, o
Apóstolo Paulo trata de três níveis da Lei, onde hipoteticamente a Lei Moral
está inserida. São eles a Lei de Deus, a Leis da Mente e a Lei do Pecado. Um
conflito se estabelecia na vida do renomado apóstolo e ele relata esta guerra
em Rm 7.15-23. Ora, uma Lei só pode ser revogada por uma outra. As pessoas que
não aceitaram Jesus vivem sem a Lei Moral de Deus, sua mente tem uma lei
conflitada pois não a cumpre pois é escrava da Lei do Pecado.
Concluo então este artigo, dizendo que a Lei vigora até
hoje e não a cumprimos por nossos esforços ou obras pois pelas obras da Lei
ninguém será justificado (Rm 3.20). Apenas a cumprimos em Cristo enquanto
permanecermos Nele. (Rm 2.13). Deste modo afirmo que Graça e Lei não são
opostas entre si, pois a Lei sinaliza e a Graça educa.
Porquanto, a graça de Deus se manifestou salvadora trazendo salvação a
todos os homens, educando-nos para que, renegadas as a impiedade e as paixões
mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente (Tt
1.11,12)